quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Supermercado ou SuperEstresse


Há dias em que eu realmente gosto de passear entre as prateleiras só para constatar que no fim, levo sempre os mesmos produtos, cada vez mais caros, mas valeu o passeio, deu para pensar um pouco na vida, ver que a inflação só não sobe nos índices do governo, blábláblá.

Mas se você dá o azar de não pensar antes de ir, ou de não ter escolha e precisar estar no supermercado no mesmo dia e horário em que todas as famílias da cidade resolveram fazer o mesmo, tipo domingo de tarde ou sexta-feira às 18h...

Ai, ai.Primeiro, que é quase certo haver uma ugly people's convention. Mas tudo bem. Os feios também amam e fazem compras e eu não sou exatamente a Angelina Jolie. Ah, se fosse só isso...

Mas tem o festival de crianças correndo enlouquecidas pelos corredores, enquanto as mães viram estátua e só pensam se realmente levam o iogurte da mini-cria do demo que puseram no mundo ou se passam na seção dos vinhos e bebem todas para esquecer a vida e suas misérias, ter que ir às compras com os filhos entre elas. Depois, é a vez de encarar aquelas tias imensas e lentas, que se encontram bem na frente da seção das massas importadas que você compra, mas elas não, onde pararam para falar mal daquela vizinha que, ao contrário delas, conseguiu ir no supermercado sem parar para assediar tudo quanto é moça oferecendo degustação grátis e por isso emagreceu 10kg. Como é que pode? Deve estar tomando baga, só pode! E o marido, então? Já deve estar tomando uns cornos.Você decide deixar as massas por último e lembra de dar um pulo na seção de hortifrutis, que hoje está em promoção. Só que fica difícil escolher um tomate decente quando há aquele tio de óculos na ponta do nariz procurando o Tomate do Ano, aquele que está no meio da pilha que já começa a cair e te faz correr para a padaria porque as frutas também já estão tomadas por outros velhinhos perfeccionistas que não vão te deixar chegar perto nem da mais feia das mangas...Só que se o supermercado é a ante-sala do inferno, a padaria é o próprio. Talvez o açougue também, mas desta seção eu simplesmente não passo nem perto, nunca. Então você chega na padaria e tem a senha para a fila dos pães e a senha para a fila dos lanches. Como você só quer um pão de queijo para matar a fome e continuar a saga das compras, pega a senha do lanche.Como nada é simples assim, a tia que queria 14 pães de trigo, 5 sonhos e 12 pães de cachorro quente também achou que isso tudo era lanche e, claro, tem a senha logo antes da sua. E quando você, que só queria uma única unidade de pão de queijo, depois de esperar os 5 imbecis que não sabem se comem o empanado de frango ou o pastel de queijo ou se tomam um suco de laranja ou compram uma fanta uva, descobre estarrecida que ainda tem que aturar a tia dos muitos netos bater boca com o atendente porque pegou a senha errada, sente uma pressão no peito.Então você olha sua lista "tomates, massa integral, alho, suco, absorvente, vinho", vê que nada daquilo está na cesta, sai da fila desejando que a tal tia engasgue com tanto pão e vai praguejando em direção à seção dos absorventes. Mas você já está naquela época do mês em que os hormônios estão bombando e você é qualquer coisa, menos uma mulher decidida. E escolher um absorvente vira tarefa impossível já que há os com aba, sem aba, diurnos, noturnos, internos, com cheiro, sem cheiro, para neutralizar cheiros, com cobertura sempre seca (e sempre assada) ou suave, gigantes, minúsculos, para fluxo intenso, médio ou muito pouco. E tudo isso em quatro marcas diferentes. Bom, podia ser pior, você poderia precisar também de shampoo e condicionador e então ficaria perdida entre os produtos para cabelos secos, secos pero no mucho, oleosos total, oleosos na raiz, normais no meio & secos nas pontas, com tutano de boi, raspa de ostra, óleo de macadâmia e tudo isso para dar/tirar volume/frizz/pontas duplas/sorte na vida/no amor ou jurar que vai ficar com os cabelos da La Bundchen. Sonha, amiga. Está mais fácil morrer e nascer de novo.Exatas duas horas depois, você consegue reunir todos os míseros seis itens da sua lista e seguir para o caixa com um hematoma na coxa que ganhou de uma criança que empurrou um carrinho em cima de você. Depois acenda uma vela e dê graças a seu anjo da guarda, que isso aconteceu quando você não estava mais escolhendo um vinho, ou teria quebrado a garrafa na cabeça do fedelho e agora estaria algemada dentro do camburão.Claro que todos os caixas estão lotados, mas como agora a revista Veja não vem mais lacrada, você respira fundo, escolhe a fila pela cara das pessoas para pegar a que, aparentemente, andará mais rápido e vai logo procurando a seção de fofocas da revista porque aquilo não são horas de uma leitura séria.Infelizmente, sua percepção já não estava das melhoras, e embasbacada você assiste todas as outras filas andarem mais rápido do que a sua por vários e vários motivos, entre eles porque a fita da impressora da nota fiscal terminou e o caixa não é exatamente o mais ágil dos atendentes; porque depois a farinha de rosca do tiozinho estourou e foram buscar outra.Você, bufando mais do que um touro brabo a essas alturas, começa a pensar em maneiras de torturar a mulher da tua frente que ficou pendurada no celular e só começou a botar as compras no carrinho quando o tiozinho da farinha de rosca já estava indo embora, tchau e benção. Claro que ela também simplesmente largou o carrinho pra trás, em cima de você que, miserável, mal consegue pagar a conta quando finalmente chega a sua vez.E embora você vai, derrotada, suada e deprimida, com as compras bonitinhas na sacola retornável ecologicamente correta, xingando até a 5ª geração de todas as pessoas que anteciparam a hora da sua morte em alguns dias...

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